Reviva o Rio Atibaia - Foto Martinho Caires

REVIVA O RIO ATIBAIA É EXEMPLO DE EMPREENDEDORISMO AMBIENTAL

Barqueata, distribuição de mudas de árvores nativas, fixação de cruzes no leito do rio, painéis com várias dicas em educação ambiental. Estas são algumas das ações nas edições anuais do Reviva o Rio Atibaia, um exemplo de empreendedorismo ambiental de sucesso em Campinas e toda a região das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Uma ação transformadora, que contribuiu para a consolidação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas.

O agrônomo José Carlos Perdigão, da ONG Jaguatibaia fala sobre importância das matas ciliares – Foto Martinho Caires

O rio Atibaia é um dos mais impactados pela construção do Sistema Cantareira, o conjunto de reservatórios que abastece metade da Grande São Paulo e que foi duramente atingido por uma forte estiagem entre 2014 e 2015, quase levando o caos ao abastecimento público na macrometrópole paulista. Estes reservatórios são formados na divisa de Minas Gerais e São Paulo, nas nascentes dos rios Atibaia e Jaguari.

       O estudo “Análise de séries temporais de vazão e de precipitação na Bacia do Rio Piracicaba) realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA), órgão da USP localizado em Piracicaba, comprovou que as vazões médias do rio Atibaia, um dos principais formadores da bacia do rio Piracicaba, foram reduzidas após a entrada em operação do Cantareira, em 1974.

Crianças em uma das edições do Reviva o Rio Atibaia – Foto Martinho Caires

       Os pesquisadores (Juliano Daniel Groppo, Luiz Carlos Eduardo Milde, Manuel Enrique Guamero, Jorge Marcos de Moraes e Luiz Antonio Martinelli) compararam as vazões de 1975 a 1996  com as de 1947-1974, em três pontos de medição, e concluíram que elas caíram entre 14,5 e 18,5% após 1974.

Muitas atrações para a garotada, um dos segredos do sucesso da iniciativa – Foto Martinho Caires

       “A comparação do comportamento dos rios com e sem a influência do Sistema Cantareira e a análise dos períodos em que as mudanças ocorrem sugerem que a retirada de água da bacia para o abastecimento da Grande São Paulo é a mais provável causa da tendência negativa na vazão”, concluem os autores.

Neste cenário, de degradação do Rio Atibaia, nasceu e cresceu o Reviva o Rio Atibaia, exemplo de empreendedorismo ambiental de sucesso, ao reunir vários atores. Acompanhe passo a passo esse case importante:

A causa – Proteger e recuperar o rio Atibaia, principal manancial de abastecimento de água de Campinas e outras cidades da região. Além disso, o rio Atibaia é fundamental para o lazer e para a identidade cultural, sobretudo em áreas como o Distrito de Sousas, que integra a APA de Campinas. Assim, o movimento Reviva o Rio Atibaia nasceu no âmbito do processo de criação e estruturação da APA de Campinas, uma grande área onde estão os principais recursos hídricos e maiores áreas de vegetação nativa, além de fazendas históricas do período do café.

Os parceiros –  A Jaguatibaia – Associação de Proteção Ambiental, uma organização da sociedade civil, lançou em 1997 o Reviva o Rio Atibaia, em parceria com a Associação de Remo de Sousas (uma organização local com muita história) e a Merck Sharp & Dohme. A empresa localizada em Sousas tem uma tradição de envolvimento com ações comunitárias e percebeu a importância de apoiar e participar do Reviva, por seu amplo alcance e dimensão ambiental.

Barqueata no rio, ação direta de amor ao rio, a causa principal do Reviva – Foto Martinho Caires

     As ações – Reunidos os parceiros, em uma causa comum de repercussão social forte na comunidade, o Reviva passou então a realizar ações anuais, tendo como espaço principal a Praça Beira Rio, em Sousas. Foram pensadas ações em educação ambiental e atividades de lazer para as crianças, envolvendo-se as escolas locais. Para os adultos, ações como a barqueata e a fixação de cruzes no leito do rio. A mídia local e regional sempre foi convocada e passou a dar boa cobertura ao evento, aumentando a visibilidade do Reviva e, principalmente, da causa em questão, a urgência de proteção e recuperação das águas que servem a todos.

A essas ações diretas com a população, o Reviva retomou o debate sobre a APA, que vinha se arrastando há alguns anos. Na segunda edição, em 1998, foi realizado o fórum Resgate do Plano Gestor da APA. A mobilização se intensificou nas edições seguintes e, a 7 de junho de 2001, durante a Semana do Meio Ambiente, o prefeito Antônio da Costa Santos sancionou a Lei 10.850, criando a APA de Campinas, englobando os distritos de Sousas e Joaquim Egídio e também a região a nordeste do município localizada entre o distrito de Sousas, o Rio Atibaia e o limite intermunicipal Campinas-Jaguariúna e Campinas-Pedreira.

Outras edições do Reviva o Rio Atibaia se seguiram, sempre com temas importantes em discussão. Definições apropriadas sobre o Plano de Manejo da APA ainda são essenciais para o futuro com qualidade de vida da região. De fato, a captação de água para Campinas, responsável por mais de 90% do consumo na cidade, está localizada no Atibaia, em Sousas, a poucos metros de onde são realizadas as barqueatas do Reviva, um emblema de que é possível reunir parceiros e mobilizar a comunidade por uma causa nobre, de interesse de todos.

A fixação de cruzes no leito do rio é ação que chama a atenção para os riscos que as águas sofrem – Foto Martinho Caires

     O Reviva o Rio Atibaia é uma iniciativa cidadã cada vez mais importante, considerando que as mudanças climáticas em curso introduziram novos elementos na discussão sobre o uso da água. A construção de grandes reservatórios de água, atingindo a APA de Campinas, também merece debate mais aprofundado.

Aula de Educação Ambiental para crianças e adultos – Foto Martinho Caires

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Plataforma do empreendedorismo social, ambiental e da ciência e inovação de Campinas. As respostas que a cidade dá a múltiplos desafios emergentes.