Bosque dos Jequitibás, uma das áreas remanescentes de Mata Atlântica que sobrevivem em Campinas (Foto Martinho Caires)

Dia da Árvore começou a ser comemorado em Campinas e Araras

Em 1902, a cidade de Araras teve o primeiro Dia da Árvore do Brasil, por iniciativa de Alberto Löfgren e João Pedro Cardoso, ligado ao Instituto Agronômico e que seria depois inspetor do 2º Distrito Agronômico de Campinas. Cardoso inspirou-se no “Arbor Day”, que era promovido desde 1872 nos Estados Unidos. O Dia da Árvore passaria a ser comemorado no Brasil todo dia 21 de setembro, na entrada da Primavera, como um símbolo do renascimento da natureza pós-Inverno.

Partiram de João Pedro Cardoso as denúncias de destruição das matas nativas de São Paulo. As denúncias foram publicadas na primeira edição da Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), neste mesmo ano de 1902. O CCLA havia sido criado no ano anterior, com grande participação de profissionais do Instituto Agronômico. O escritor Coelho Neto, um dos fundadores do CCLA, também apoiou o primeiro “Arbor Day” no Brasil, realizado no dia 7 de junho.

João Pedro Cardoso integrou a primeira Comissão de Agricultura e Zootecnia do Centro de Ciências, Letras e Artes, ao lado de Gustavo D´utra, então diretor do Instituto Agronômico, e de Abelardo Pompeu do Amaral, Doutor em Ciências Físicas e Químicas pela Escola de Genebra, na Suíça.

Texto principal do primeiro número da Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes, em 1902 (Foto Martinho Caires)

A tradição florestal seria mantida pelo Instituto Agronômico de Campinas ao longo de todo o século 20. No início da década de 1960, pesquisadores do Instituto coordenaram a execução do primeiro levantamento aerofotogramétrico da cobertura florestal do território paulista.

Foram feitas 25 mil fotografias aéreas de cada ponto do território paulista. O levantamento concluiu que, no início da década de 1960, o Estado de São Paulo tinha 3.405.800 hectares de floresta nativa, ou 13,7% do território paulista. Pelo esforço tecnológico e científico desenvolvido, o trabalho chamou a atenção da comunidade científica internacional para a tragédia representada pela destruição de um dos principais patrimônios ambientais do planeta, a Mata Atlântica, que por uma ocupação inadequada, iniciada pelos colonizadores portugueses, reduziu-se a menos de 10% de sua extensão original, de 1 milhão de quilômetros quadrados.

Os avisos dos cientistas não foram suficientes. A destruição continuou. A Região Metropolitana de Campinas, berço da comemoração do Dia da Árvore no Brasil, tem menos de 5% de vegetação nativa remanescente.

No município de Campinas, restam algumas manchas de vegetação nativa, como as matas dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio e a Mata de Santa Genebra, em Barão Geraldo, além do Bosque dos Jequitibás, cada vez mais pressionado pelos impactos da urbanização.

Primeiras comissões científicas do CCLA, demonstrando grande preocupação com as questões ligadas à agricultura e natureza em geral (Foto Martinho Caires)

Por isso mesmo Campinas teve vários “semeadores de florestas”, cidadãos que ,preocupados com a destruição da vegetação, passaram a se dedicar ao plantio maciço de árvores. Caso do agrônomo Hermógenes de Freitas Leitão Filho. Nascido em 1944, e formado em 1966 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, o professor Hermógenes, como ficou conhecido, fez doutorado em Botânica e vinculou-se em 1974 ao corpo docente da Unicamp.

Na Universidade, chefiou o Departamento de Botânica e idealizou o Jardim Botânico e o Parque Ecológico, que depois levaria o seu nome. Em sua carreira, o professor Hermógenes formou várias gerações de botânicos, e produziu livros e artigos, no Brasil e no Exterior, sobre vários aspectos da flora nacional. Sua maior paixão eram as matas nativas da região de Campinas, que freqüentava com assiduidade, para pesquisas próprias ou como orientador de estudantes. Em uma dessas visitas, a 23 de fevereiro de 1996, o professor morreu de infarto fulminante de miocárdio.

Livro sobre a Mata de Santa Genebra, lançado em janeiro de 1996 e organizado por Patrícia Morelatto e Hermógenes de Freitas Leitão Filho

Parceira de Hermógenes em muitos projetos, Dionete Santin deu continuidade a esse esforço e é uma das grandes “semeadoras de floresta” na atualidade em Campinas e região. A sua tese de doutorado na Unicamp foi sobre as áreas remanescentes de Mata Atlântica no município.

Outro “semeador de floresta” foi Hermes Moreira de Souza. Durante muitos anos funcionário do IAC, Hermes Moreira de Souza ficou conhecido como aquela pessoa que “plantou uma mata”. Em uma área de 7 hectares, da Fazenda Santa Elisa, pertencente ao IAC, Hermes promoveu durante 30 anos o plantio de 3.500 espécies de árvores e 400 de palmeiras. São espécies nativas e exóticas, de toda parte do mundo.

Na Mata do Monjolinho, constantemente ameaçada pelas queimadas, sobretudo durante os períodos de estiagem no Inverno, Hermes plantou, entre outros, exemplares de embaúva (Bolívia), flor-da-neve (Andes) ou das matas nativas brasileiras araçapiranga (Litoral paulista) e jangada (Mato Grosso).

Campinas ainda conta com o legado de Wolfgang Schmidt. Nascido em 1905, em Berlim, Wolfgang Schmidt comprou em 1942 a Fazenda Santa Mônica, no Distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, para onde mudou com a mulher, Anésia. Desde então o casal desenvolveu na Fazenda um trabalho pioneiro de reflorestamento misto, resultando em um arboreto com 120 espécies de árvores, basicamente nativas. O trabalho de Schmidt foi reconhecido a nível internacional. Em 1992, recebeu o Prêmio Global 500, concedido pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma). Ele faleceu em 2006, aos 100 anos. Um tributo à vida plena. (Por José Pedro S.Martins)

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