Hércules Florence, Exemplo de Ciência e Empreendedorismo

Um exemplo de rigor científico e empreendedorismo, uma biografia que comprova como Campinas é um território fértil para ações inovadoras e transformadoras. Assim pode ser resumida a rica vida de Hércules Florence – o seu nome abrasileirado – na cidade.

Nascido em Nice, na época italiana e hoje na França, em 1804, Antoine Hercule Romuald Florence herdou do pai a vocação para o desenho. Apaixonado pelo mar, e iluminado pelas aventuras de Robinson Crusoé, aos 18 anos se alista na Marinha. Em 1824 já está no Rio de Janeiro, trabalhando como livreiro, vendedor de roupas e tipógrafo, ofício que seria muito útil, depois, em sua estadia em Campinas.

Em 1825, Florence é recrutado para uma das mais importantes e turbulentas expedições científicas realizadas no Brasil Imperial, aquela liderada pelo conde e naturalista russo Georg Heinrich von Langsdorff.

Percurso da expedição Langsdorff

Até 1829, Florence foi um dos responsáveis pelo registro iconográfico da exposição que percorreu 13 mil quilômetros de vários estados e fez uma relevante documentação etnográfica e geográfica do “Brasil profundo”. Inicialmente o desenhista principal foi Johann Rugendas, papel depois assumido por Aimé Adrian Taunay.

A expedição foi marcada por tragédias. Em 1828, Taunay se afogou no rio Guaporé, no Mato Grosso. O próprio Langsdorff foi vítima de doenças tropicais, o que acabou inviabilizando a publicação dos achados científicos da forma como tinha sido idealizado.

Em 1830 Florence já está na Vila de São Carlos, o nome de Campinas até 1842. Ele se casa em primeiras núpcias com Maria Angélica Álvares Machado e torna-se inicialmente comerciante. Depois será proprietário rural.

Não havia tipografia, ainda, na Vila, e Florence desenvolve o próprio método, a Polygraphie. Ele também é precursor da ciência de registrar os sons dos pássaros, que denominou Zoophonie. Em 1858, sua tipografia imprimiu o primeiro jornal de Campinas, “Aurora Campineira”.

Uso do método fotográfico para imprimir rótulos de remédio

Mas a sua maior invenção, provavelmente entre 1832 e 1833, já morando em Campinas, foi a fotografia, pelos estudos pioneiros que realizava, de forma simultânea com nomes como Louis Daguerre (1787-1851). Morando no interior do Brasil, em uma época não muito aberta a inovações, Florence acabou não tendo o reconhecimento devido, como teve Daguerre em solo europeu.

Desenho do Equipamento usado para seus experimentos

Florence casou-se em segundas núpcias com Carolina Krug, nascida em 1828 em Kassel, na Alemanha, e desde 1852 residindo em Campinas. Em 3 de novembro de 1863 o casal inaugura o Colégio Florence, um marco na história da educação local, e que em 1889 será transferido para Jundiaí, em função da febre amarela que devastou Campinas.

Entre outros, integraram o corpo docente do Colégio Florence o próprio Hercule, o austríaco Emilio Henking, o jornalista Francisco Rangel Pestana (que seria um dos principais propagandistas da República), o músico italiano Emilio Giorgetti, o educador Miguel Alves Feitosa (autor de “A Gramática das Escolas”, uma das mais respeitadas na época no Brasil) e o escritor e jornalista Júlio Ribeiro, autor de uma Gamática Portuguesa também influente e do romance “A Carne”, um dos melhores retratos horrores da vida nas senzalas no Brasil imperial. Foi portanto um Colégio que ajudou a construir um pensamento mais plural, não sectário e mais laico, em Campinas, o  que também ocorreria com o Colégio Culto à Ciência.

Hercule Florence morreu em 27 de março de 1879. Seu nome e obra são muito citados e conhecidos no meio intelectual e acadêmico e entre os profissionais da fotografia, mas de forma geral Campinas ainda não conhece e reconhece devidamente o seu trabalho. O Festival de Fotografia de Campinas “Hercule Florence”, que já soma várias edições, sob a coordenação e curadoria do fotógrafo Ricardo Lima, é uma das únicas iniciativas que lembram à altura o importante inventor. Mas a cidade ainda pode fazer muito mais.

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Plataforma do empreendedorismo social, ambiental e da ciência e inovação de Campinas. As respostas que a cidade dá a múltiplos desafios emergentes.