Culto à Ciência, colégio fundamental na história de Campinas (Foto Martinho Caires)

Escolas históricas de Campinas II – Colégio Culto à Ciência

O Colégio Culto à Ciência foi outro ousado projeto educacional do final do século 19 em Campinas. A instituição tornou-se um marco no setor e contribuiu para a criação do ambiente favorável à ciência e tecnologia na cidade. (Ver artigo especial sobre a trajetória do polo científico e tecnológico de Campinas na plataforma EcoSocial Campinas.)

Participaram do esforço de criação do Culto à Ciência nomes como Cândido Ferreira da Silva Camargo (advogado e benemérito, vereador em 1873-76 e 1869-72, dá nome hoje a um dos principais estabelecimentos em saúde mental no Brasil) e Manuel Ferraz de Campos Salles (vereador em 1873-76 e 1877-80, seria o segundo presidente civil do Brasil, entre 1898 e 1902).

Muitos dos idealizadores do Colégio eram ligados às Lojas Maçônicas de Campinas (Fraternidade Campineira e Independência), que seguiam as orientações republicanas da maçonaria em geral no País. A idéia era estabelecer uma escola com currículo laico, marcado pela liberdade de pensamento. O nome, Culto à Ciência, era uma clara referência à doutrina positivista de Augusto Comte, uma das principais referências para os republicanos brasileiros.

A assembléia de fundação do Colégio Culto à Ciência aconteceria a 19 de maio de 1869, mas a pedra fundamental seria lançada apenas a 13 de abril de 1873. O início das atividades, no prédio em estilo neoclássico, foi a 12 de janeiro de 1874. O ambiente de liberdade e incentivo à cultura e à ação solidária do Culto à Ciência, por onde passaram nomes como Alberto Santos Dumont, foi mais um ingrediente do processo de estruturação de um polo de ciência e tecnologia em Campinas.

Santos Dumont chegou a Campinas em 1883, permanecendo até o ano seguinte. Em pouco mais de um ano, foi muito fértil o seu contato com alguns dos professores do Culto à Ciência, sobretudo com João Kopke, uma mente aberta e espírito livre, que se tornou uma referência para o sonhador menino de 10 anos.

Nascido em Petrópolis (RJ), e tendo cursado Direito primeiro em Recife e depois em São Paulo, Kopke se estabeleceu em 1880 em Campinas, atraído pela fama liberal do Culto à Ciência e de outra escola onde também deu aulas, o Colégio Florence, de Carolina e Hercules Florence. Kopke foi autor do “Methodo racional e rapido para aprender a lêr sem soletrar” e de “O ensino da leitura pelo methodo analytico”,

A influência do professor foi tamanha que, em 1885, já fora do Culto à Ciência, Santos Dumont passa a estudar em São Paulo no Colégio Kopke, que introduziu novas metodologias educacionais, como o ensino e aprendizado em pequenos grupos, com atendimento personalizado ao aluno.

Edifício original foi mantido e começou a passar por restauro (Foto Martinho Caires)

Edifício histórico

O edifício do Colégio Culto à Ciência é um dos bens relevantes do patrimônio artístico e arquitetônico de Campinas. Em sua origem o prédio reunia quatro salas de aula além dos espaços administrativos, sanitários e da biblioteca onde Santos Dumont e tantos outros ampliaram seus conhecimentos.

O projeto do edifício, do engenheiro e empreiteiro Jorge Guilherme Henrique Krug, estipulava a construção de “um pavimento térreo e outro superior, medindo 23,50 metros de frente por 17 metros de fundo, construído de tijolos aparentes, pelo sistema flamengo, devendo oferecer aspecto elegante”.

No primeiro pavimento foram instaladas as salas de aula. No superior, ficavam os dormitórios e ambientes administrativos. Em função das mudanças políticas derivadas da Proclamação da República, em 1889, em 1892 foi dissolvida a Sociedade Culto á Sciência e o colégio foi denominado Ginásio de Campinas, assim permanecendo até 1897.

Aos poucos o edifício foi ampliado, agregando-se novos espaços, mas permaneceu o prédio original. Uma reforma importante aconteceu entre 1943 e 1944, quando o professor Aníbal de Freitas era diretor, cargo que ocupou por 27 anos. O núcleo de Campinas do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) assim descreve as alterações: “A planta do edifício foi preservada, ao mesmo tempo em que se realizou uma grande reforma do telhado que acabou por alterar em vários aspectos a fisionomia do edifício, além e se realizar embelezamentos. O telhado ganhou uma cimalha com elementos e pinhas de terracota sobre os cunhais; a fachada recebe um balcão com gradil de ferro, pilares e mísulas em terracota, ornatos com vasos e lanternas, além de ser instalada na porta principal uma bandeira de ferro com a data da nova fase do colégio registrada”.

Laboratório histórico do Culto à Ciência (Foto Martinho Caires)

O IAB-Campinas continua informando que foram igualmente realizadas reformas “na rede elétrica e sanitária do colégio (construção de banheiros, instalações sanitárias separadas, um dependência destinada ao bar) e nos edifícios, realizando-se a construção de um novo pavilhão junto ao corpo principal do colégio (para salas de aulas, também instaladas no interior do salão nobre) e de um pavilhão de educação física, na prática, um grande Ginásio Municipal destinado “à secção de esportes, construído em terreno do Colégio Estadual” que se faria inaugurado “Por ocasião dos jogos do 10º Campeonato Aberto do Interior, realizados em princípio de outubro deste ano”.

Outras reformas ocorreriam nos anos seguintes. Na década de 1990 foi criada a Sociedade dos Amigos do Culto à Ciência, integrada por ex-alunos da instituição histórica e que passou a contribuir com várias melhorias no Colégio e projetos culturais.

Na primeira década do século 21 teve início o restauro do Colégio Culto à Ciência, ligado ao governo estadual. Atualmente a edificação possui 5.800,00 m² de área construída. 
O edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT, órgão estadual, em 1988 (Processo nº 22804/83 – Resolução nº 48 de 05/09/1988), e pelo CONDEPACC, órgão municipal, em 1992.

O retrato célebre de Santos Dumont (Foto Reprodução)

Alunos e professores do Culto à Ciência

Entre outros, foram alunos do Colégio Culto à Ciência ex-prefeitos de Campinas, como Heitor Penteado, Francisco Amaral e Edivaldo Orsi. Também foram alunos a atriz Regina Duarte, o apresentador Fausto Silva, o ator Carlos Zara, o poeta e jornalista Guilherme de Almeida, o cantor e compositor Cláudio Nucci, o engenheiro e arquiteto Lix da Cunha e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

Entre os ex-professores estão o historiador Basílio de Magalhães (autor de “O café na história, no folclore e nas belas-artes”, de 1939, entre outros), o engenheiro Carlos Francisco de Paula, Abílio Álvaro Miller (História Geral), Alice Brizola (Música), Angela Maria Magri (FIlosofia), Benedito José de Sampaio (Português), Camilo Vanzolini (Italiano), Célia Siqueira Farjallat (professora de inglês, foi durante muitos anos colunista no jornal “Correio Popular”), Ernesto Kuhlmann (Alemão), Henrique Maximiano Coelho Neto (professor de Literatura, foi membro da Academia Brasileira de Letras), João Cesar Bueno Bierrenbach (professor de História Universal, foi um dos fundadores do Centro de Ciências, Letras e Artes), Terezinha Von Zuben (Inglês) e muitos outros.

O Culto à Ciência é uma das páginas mais brilhantes da história de Campinas. Muitas informações sobre a escola podem ser obtidas no site http://cultoaciencia.net/

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