Dr.Darcy Paz de Pádua, debaixo da grande figueira que é um ícone para a história da Fundação Odila e Lafayette Álvaro

A FEAC TEM MUITA HISTÓRIA NO VOLUNTARIADO

A Fundação FEAC foi criada em abril de 1964, depois de um forte movimento comunitário sob a liderança de Eduardo de Barros Pimentel e Darcy Paz de Pádua. Pois a novidade no formato de ação da FEAC teve rápida repercussão além dos limites de Campinas e das próprias fronteiras nacionais. Em fevereiro de 1966 o trabalho de promoção social e integração da Federação foi um dos destaques de um encontro de assistência social realizado pela Unesco na Argentina.

A FEAC foi ao evento por intermédio de Maria da Glória Ferraz, presidente do Centro de Promoção e Integração do Menor (CEPIM), situado em Taboão da Serra. Ela consultou a FEAC sobre o interesse em disponibilidade de representar o Brasil na 15ª Conferência Internacional da Unesco sobre Serviço Voluntário, entre os dias 20 e 27 de fevereiro, em Rosário, na Argentina.

O Dr.Darcy Paz de Pádua foi o representante da FEAC e também da LBA Campinas no evento. Como o processo de estruturação e mobilização da FEAC despertou muito interesse por sua novidade no encontro, já em março de 1966 esteve em Campinas, para conhecer de perto a Federação, o diretor do Comitê Internacional do Serviço Voluntário da Unesco, Jean Michel Bazinet.

Nesse mesmo mês de fevereiro de 1966 a diretoria da FEAC havia analisado um Plano de Treinamento de Pessoal Voluntário em Trabalho de Bem Estar Social, elaborado por comissão coordenada por Leonor Amstalden e secretariada por Elsie Tepedino e Antônio Molina Serralvo, todos assistentes sociais.

Dr.Darcy Paz de Pádua

Consequência natural, a FEAC realizou a 1ª Semana do Voluntário em Campinas de 25 a 29 de abril de 1966, com a presença de 176 pessoas. O Centro de Treinamento do Voluntário (CETREVO) nasceu deste evento.

Com toda essa atuação, a FEAC foi igualmente convidada a participar da criação da Associação Brasileira de Voluntários (Abravo). E em 1968 a FEAC tornou-se a primeira organização brasileira e segunda na América Latina a ingressar no Serviço Social Voluntário Internacional da Unesco, décadas antes, portanto, que o voluntariado ganhasse a dimensão que adquiriu, a partir dos anos 1990.

Seminário Internacional

 O envolvimento da FEAC com o voluntariado foi tamanho que em julho de 1969, na sede da Fazenda Brandina, já administrada pela instituição, foi promovido um Seminário Internacional sobre a temática, e que deixou marcas profundas na Federação.

O Dr.Darcy lembra que o frio era intenso em Campinas. “O mundo inteiro estava com os olhares voltados para a descida dos astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin na lua”, recorda-se ele. O “grande salto para a humanidade”, como Armstrong definiu o evento, aconteceu a 20 de julho de 1969.

Justamente nos dias do fato histórico, os rumos do voluntariado e da ação social na América Latina, continente marcado por tantas desigualdades, eram discutidos na Fazenda Brandina por dezenas de representantes de vários países, além de participantes brasileiros de Campinas, São Paulo, Capivari, Indaiatuba, Itu, Pinhal e São José dos Campos.

Foi um Seminário longo e intenso, realizado entre 29 de junho e 30 de julho de 1969.  O foco era o fomento ao voluntariado entre jovens de 18 a 25 anos, que atuassem como multiplicadores em suas comunidades. O evento contou com o apoio financeiro do governo de São Paulo, para estudos teóricos e práticos em comunidades urbana (Jardim Conceição) e rural (Fazenda São José).

No Jardim Conceição foi iniciada a construção de um centro social, com projeto oferecido voluntariamente pelo arquiteto Gilberto Pascoal. A pesquisa no Jardim Conceição, pela equipe do projeto urbano, foi realizada em local próximo à Fazenda São Quirino e Jardim Boa Esperança, ferrovia Mogiana e rodovia Campinas-Mogi. Era uma comunidade com 170 famílias, 68 das quais foram pesquisadas (40%), com 434 pessoas.

O trabalho na Chacrinha, na Fazenda São José, envolveu 16 famílias, com 81 moradores. Junto às comunidades urbana e rural foi desenvolvidas atividades educacionais, seguindo os conceitos de Paulo Freire, muito perseguido pelo governo militar na época.

Os trabalhos teóricos apresentados no Seminário foram de alta qualidade, sob o tema geral “Participação de Jovens Voluntários no Desenvolvimento e Integração na América Latina” – questão ainda cara ao continente, mais de quatro décadas depois.

Entre os trabalhos apresentados, O desenvolvimento urbano e suas implicações: realidades urbanas da Grande São Paulo, de Mário Laranjeira de Mendonça. Luci Montoro apresentou o trabalho O Serviço Voluntário e a ação juvenil. O ensaio A Juventude e a problemática do desenvolvimento e integração na América Latina foi apresentado pro Juarez Brandão Lopes, que fez uma análise crítica sobre itens como destruição de comunidades indígenas, evolução do latifúndio, o processo de mestiçagem, as diferenças de renda per capita, a relação entre patronagem e coronelismo na política. Lopes acentuou que o “tipo de desenvolvimento em Cuba é único na América Latina, independente da ideologia que se tenha”, clara indicação do ambiente de liberdade em que o Seminário aconteceu, em plena vigência do Ato Institucional número 5, de 5 de dezembro de 1968.

Foi apresentado ainda no Seminário um Plano de Treinamento de Pessoal Voluntário em Trabalhos de Bem Estar Social, elaborado e enriquecido por assistentes sociais de Campinas, desde setembro de 1965. O Plano previa o levantamento dos voluntários de Campinas, em uma primeira etapa, e a sua capacitação, em uma segunda. A FEAC efetivamente iniciou a capacitação de voluntários no período.

O encerramento festivo do Seminário Internacional, dia 26 de julho de 1969, um sábado, foi emocionante. Na presença do prefeito Orestes Quércia (MDB), do secretário estadual da Promoção Social, José Felício Castelano, e do comandante do 5º GCAN, do Exército, coronel Cerqueira Lima, foi promovida uma homenagem especial aos voluntários e serventes da própria FEAC que trabalharam durante o evento, como a cozinheira Adelaide, que foi servida pelo próprio grupo de participantes. Adelaide Cezar de Moraes havia sido funcionária durante anos do casal Odila e Lafayette Álvaro no casarão da Fazenda Brandina. Ela continuou residindo em uma casa da Fazenda depois da morte do casal, por desejo dos próprios beneméritos.

E de fato não faltou emoção, como se recorda o Dr.Darcy, sorridente com a lembrança. No momento em que estava sendo servida a sobremesa, os participantes entoaram nada menos do que a canção Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, que se tornou um hino da resistência ao regime militar. O constrangimento dos militares presentes foi imediato, e posteriormente o coronel Cerqueira Lima louvou a realização do Seminário com uma ressalva, claro, em relação à música de Vandré, dizendo que o ato tinha sido “uma provocação”, conta o Dr.Darcy.

Durante muito tempo o Seminário gerou frutos, reforçando a credibilidade da FEAC. Ainda a 30 de julho, último dia do Seminário, foi promovida uma palestra sobre Serviço Voluntário na Secretaria do Bem Estar Social da Prefeitura de São Paulo, com a participação de representantes da FEAC e de Guilhermo Giacosa, secretário geral para a Argentina do Serviço Voluntário da Unesco, que esteve no Seminário em Campinas.

A ligação da FEAC, assim como de outras instituições da América Latina, com o Centro Regional do Serviço Voluntário da Unesco seria mantida por vários anos, até o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende no Chile, a 11 de setembro de 1973. Diversas atividades que eram realizadas a partir da capital chilena, Santiago, foram suspensas ou, geralmente, interrompidas em definitivo com o golpe militar. Caso de muitas atividades relacionadas ao trabalho das Nações Unidas, como o Centro Regional do Serviço Voluntário da Unesco.

A FEAC sempre teve, portanto, uma forte atuação na área do voluntariado. Não seria por acaso, então, a sua atuação de destaque no Ano Internacional do Voluntariado, em 2001. “A ação voluntária sempre foi um forte da FEAC e continuará sendo, como símbolo do estímulo e exercício de cidadania”, lembra o Dr.Darcy, debaixo da grande figueira que é um ícone para a história da Fundação Odila e Lafayette Álvaro – Federação das Entidades Assistenciais de Campinas. (Com informações do capítulo do livro “FEAC 50 anos: Uma história de inovação e solidariedade”, de José Pedro Soares Martins, lançado em 2014.)

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