Laboratório Nacional de Luz Síncroton, um dos ícones do ecossistema de inovação de Campinas (Foto Martinho Caires)

Inovação e empreendedorismo para Campinas nos próximos cinco anos

Por José Luiz Guazzelli

(Texto elaborado para participação em webinar promovida pela Inova Unicamp, no dia 10 de setembro de 2020, com moderação de Vanessa Sensato, diretora de Relações Institucionais da Inova Unicamp)

O que representam os parques tecnológicos para Campinas?  Qual a missão destes empreendimentos?

Campinas é um território privilegiado, nele estão instaladas três Universidades, dezenas e de Centros de Tecnologia, um enorme contingente de empresas de base tecnológica e cinco Parques com diferentes características, sejam científicos ou tecnológicos que mobilizam um importante contingente de empresas, entre estes o TECHNO PARK CAMPINAS, o primeiro parque tecnológico privado do Brasil com 51 empresas de base tecnológica onde trabalham 5.100 pessoas.

Mas, não basta contarmos apenas com um ecossistema exemplar se não soubermos potencializar os resultados gerados por esses empreendimentos, como impulsionadores de um círculo virtuoso de desenvolvimento econômico da cidade.

Caberá ao novo Prefeito alinhar a sua agenda com a Fundação Fórum Campinas Inovadora, para conhecendo as demandas e o potencial deste ecossistema,  ampliar o esforço para a consolidação da vocação de Campinas, não apenas como Polo de Alta Tecnologia, mas também como um ecossistema de NEGÓCIOS, conceito descrito no livro “A morte da competição”[1] de James Moore. 

“A missão dos Parques Tecnológicos resume-se a promover o desenvolvimento regional, oferecendo às empresas neles instaladas, infraestrutura e serviços de facility management de alta qualidade, dentro de um ambiente que promova a cultura de inovação,  a competitividade e estimule a interação com o ecossistema regional de CT&I”.

Os Parques podem ser públicos ou privados, todos são instrumentos muito relevantes para o desenvolvimento tecnológico de Campinas. No entanto a filosofia e missão de um Parque Tecnológico, como toda iniciativa de sucesso, exigem uma gestão eficiente e boa capacidade de investimentos para que os projetos não sejam interrompidos por questões orçamentárias.

Como o meio urbano pode facilitar o desenvolvimento tecnológico de Campinas?

Agradeço por trazer esta questão ao debate. É fato que os Polos tecnológicos são comumente analisados por sua capacidade de gerar processos produtivos inovadores, pela articulação e interação entre atores científicos, empresariais, financeiros e políticos.

No entanto, entre os fatores críticos de sucesso de um Polo Tecnológico, encontram-se os atributos do território e de seus gestores, aliás, é o que recomenda o urbanista Fábio Duarte em seu trabalho “Cidades inteligentes inovação tecnológica no meio urbano”, na medida em que o sucesso dos Polos Tecnológicos repousa, principalmente, em estratégias de desenvolvimento do território  e nos instrumentos decisórios da gestão pública.

         A recente Tese do geografo Lucas Baldoni, que integra a equipe da INOVA e é membro do comitê de CT&I do TECHNO PARK CAMPINAS, ressalta que, no âmbito da oferta de atividades que envolvem ciência, tecnologia, empreendedorismo e inovação na cidade, deve haver um alinhamento mais objetivo entre o uso do espaço urbano,  as políticas de zoneamento urbano e com os resultados econômicos pretendidos.

         O município já possui os recursos territoriais para a inovação; a nossa sugestão ao novo Prefeito é centrar suas ações no campo do desenvolvimento econômico, ampliando a competividade de Campinas para a atração de investimentos catalisando o processo de requalificando de Campinas como CIDADE GLOBAL COMPETITIVA.

A cidade-palco deve ser substituída pela cidade-atriz, reduzindo os custos públicos para atrair empresas, envolverem-se em processos de negociação com os três setores da sociedade, participar pro ativamente do planejamento e gestão urbana regional, aliando seus trunfos catalisadores da inovação científica.

Unicamp, uma das principais universidades da América Latina (Foto Martinho Caires)

O que a gestão municipal de Campinas pode fazer para ampliar a competitividade da cidade?

As ações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, nos últimos 05 anos  permitiram que o setor de CT&I desse passos importantes no âmbito do ecossistema local, embasados no planejamento estratégico do município e em legislações de incentivo para as EBTs.

Mas para ampliar-se fortemente a competividade do segmento da tecnologia em Campinas, será preciso avançar muito mais.

No plano local penso que será preciso urgentemente transformar o plano estratégico de CT&I em um plano de ação, simplificar a relação com o setor público e reduzir o elevado “custo Campinas”.

Já no nível estadual , no âmbito regulatório, por exemplo, é preciso alterar o decreto Pró-Parques, conforme minuta que protocolamos junto a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, que tem o objetivo de simplificar e ampliar a resolutividade e abrangência dos benefícios previstos na Lei Paulista de Inovação, importante instrumento para o desenvolvimento tecnológico. Talvez o próximo prefeito possa encampar esta bandeira.

Mais recentemente, estamos assistindo um exemplo do que não pode ser feito, o estado enviou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei nº 529, que se aprovado, retirará mais de UM BILHÃO DE REAIS dos orçamentos das universidades estaduais paulistas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), configurando-se, mais uma vez, a diluição da centralidade que a educação e a CT&I deve ter para uma nação.

Conclusões:

  1. As cidades devem atuar como catalisadoras do desenvolvimento de um POLO TECNOLÓGICO INOVADOR – tanto pelo lado dos custos Municipais, quanto pela melhoria do contexto urbano.
  2. É preciso que as cidades deixem de ser o receptáculo passivo, para se tornarem agentes capazes de oferecer ambiente ativo para o desenvolvimento de atividades econômicas e tecnológicas vigorosas.
  3. A cidade-palco deve ser substituída pela cidade-atriz, reduzindo os custos públicos para atrair empresas, envolver em processos de negociação com as outras instâncias de governo, participar ativamente do planejamento e gestão urbana regional, aliando seus trunfos catalisadores da inovação científica.

[1] The Death of Competition: Leadership and Strategy in the Age of Business Ecosystems” de (James Moore, 1996). 

Referência: “Dilema do desenvolvimento tecnológico no Brasil’, apresento o diagnóstico da situação e propostas para
a concepção de “NOVAS ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NACIONAL COM FOCO NA REGIÃO
DE CAMPINAS”, conheça este documento no meu linkedin:

https://www.linkedin.com/posts/jos%C3%A9-luiz-guazzelli-8800b223_o-dilema-do-desenvolvimento-tecnol%C3%B3gico-no-activity-6701562749278928896-s48m


MINI BIO: José Luiz Guazzelli: Formado em engenharia civil pela UNICAMP (1974), com especialização em infraestrutura urbana pela École Nationale des Ponts et Chaussées (École des Ponts ParisTech) França . Já esteve à frente de grandes desafios em sua carreira, na direção de importantes obras de rodoviárias de infraestrutura urbana públicas e privadas em Campinas e Região; (1985 /1988 – 1993 / 1995) foi Secretário Municipal de Campinas responsável por Obras, Habitação e Presidente da SANASA (1996); (1997-2002) foi Superintendente de Ações Sociais e Patrimonial da FEAC – Federação de Entidades Assistências de Campinas; atualmente é Diretor Técnico da empresa LAPLACE ENGENHARIA e Diretor do Parque Tecnológico TECHNO PARK CAMPINAS 1998– 2020.

Sobre EcoSocial

Plataforma do empreendedorismo social, ambiental e da ciência e inovação de Campinas. As respostas que a cidade dá a múltiplos desafios emergentes.