Por José Pedro Soares Martins
Zeitgeist é um termo alemão, muito utilizado em filosofia, que expressa o chamado “espírito do tempo”. É estar identificado com os sentimentos, as sensibilidades, a cultura de uma época. Pois estar afinada com o seu tempo, com os anseios mais profundos e as potências mais latentes de seu momento histórico, é a marca da Fundação Educar DPaschoal, em seus 30 anos de trajetória, lembrados neste mês de novembro.
Quando a Fundação Educar foi criada, em 1989, o mundo e o Brasil vivenciavam mudanças radicais. No plano internacional, a queda do Muro de Berlim (no dia 9 de novembro) simbolizava o fim de uma era, a da Guerra Fria, e a abertura de novos horizontes.
Havia um clima de otimismo, de esperança, e outro signo daquele período era a o debate global em torno dos direitos das crianças e adolescentes. Apenas seria possível construir outro modelo civilizatório com o respeito integral aos direitos da infância e juventude, o que historicamente não acontecia na maior parte dos países.
Fruto dessa percepção, intensificou-se um diálogo que culminou na aprovação no dia 20 de novembro de 1989, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, da Convenção sobre os Direitos da Criança. Pela primeira vez as crianças e os adolescentes passariam a ser reconhecidos como cidadãos de fato, nos termos da Doutrina da Proteção Integral que orientou a confecção da Convenção.
Esse debate também se refletiu no Brasil, que na prática até se antecipou ao que seria garantido pela Convenção. A nova Constituição brasileira, promulgada a 5 de outubro de 1988, já incluía, também de forma inédita, os direitos de cidadania da infância e juventude, como está explícito no artigo 227, e igualmente sob a influência da Doutrina da Proteção Integral.
Pois é neste contexto inspirador que nasceu a Fundação Educar DPaschoal, em total sintonia com o que os segmentos mais progressistas estavam defendendo e pensando sobre uma posição mais ativa das crianças e adolescentes na sociedade.
Nascida da vocação da família empreendedora do Grupo DPaschoal em atuar pelo desenvolvimento da comunidade onde a empresa está inserida, a Fundação Educar reflete no próprio nome o seu norte, a sua missão. Seria uma instituição voltada para fortalecer a educação como ferramenta de transformação, de construção de novas vidas. A educação como base para a garantia dos direitos previstos na Constituição de 1988 e na Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989.
E assim tem sido a tônica da Fundação Educar nessas três décadas, com a execução de programas e projetos direcionados para a melhoria do ambiente educacional. É o caso superlativo da Academia Educar, que alia a preocupação educacional com o fomento ao protagonismo juvenil.
Outra contribuição fundamental da Fundação Educar tem sido a produção de livros. São milhões de livros impressos, contemplando os mais diversos temas transversais, de interesse das crianças e adolescentes. Cidadania, cultura, meio ambiente, com textos e imagens cativantes e mobilizadores.
O incentivo ao voluntariado é outra vertente da instituição. O voluntariado como caminho para a ampliação do sentido de cidadania e bem estar comunitário.
Muito antes que o conceito de responsabilidade social emergisse com força, a Fundação Educar DPaschoal colocou em prática, portanto, a nobre noção de suporte da iniciativa privada a ações de cunho social. Várias dessas ações são realizadas em parceria, com organizações como a Fundação FEAC, o que também valoriza o sentimento de comunidade, de união entre vários atores pelo bem comum.
O que a instituição já realizou ratifica que tem estado, concretamente, em alinhamento com o espírito de seu tempo. E mais ainda: ela na realidade acaba estando à frente de seu tempo, ao ajudar a tantas crianças e adolescentes a projetar novos rumos, mais condizentes com os direitos humanos básicos.
Enfim, a Fundação Educar DPaschoal é emblemática de como Campinas é brilhante quando ousada, corajosa, quando pensa no todo e não nas partes. Uma inspiração para que a cidade não se acomode, não aceite injustiças.
Outra contribuição fundamental da Fundação Educar foi nos debates preparatórios e pela implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado a 13 de julho de 1990, nos termos da Lei Federal nº 8069. O olhar da Fundação Educar para a juventude é o próprio espírito do ECA, que agora está muito próximo de completar 30 anos.
Este artigo de José Pedro Soares Martins foi publicado originalmente no jornal “Correio Popular”