Em plena pandemia de Covid-19, o Instituto Padre Haroldo (IPH) mantém atividades, em benefício de centenas de famílias em situação de vulnerabilidade social. Em função de suas ações, toneladas de alimentos e produtos de higiene e limpeza já foram encaminhadas a essas famílias de baixa ou com nenhuma renda. Com todas essas iniciativas, o Instituto enriquece o legado do religioso que viveu desde 1964 em Campinas e que faleceu aos 100 anos, no dia 30 de novembro de 2019.
O apoio da comunidade sempre foi determinante para a continuidade das obras iniciadas pelo Padre Haroldo Rahm e assim tem sido durante a pandemia. O IPH já realizou eventos como , a Virada Gastronômica Solidária, uma iniciativa conjunta com grandes nomes da gastronomia de Campinas, que reverteram parte da sua arrecadação para as ações sociais da organização. A ação inovadora divulgou e apoiou estabelecimentos de um setor que também passa por momentos difíceis em virtude da pandemia, assim como deu suporte a sustentabilidade do IPH.
Nestes dias 29 e 30 de agosto (sábado e domingo), o IPH realiza o evento Sapori D´Italia, em sistema drive thru, na sede da entidade, das 11 às 15 horas. A iniciativa conta com a expertise de Jurandir Meirelles, chef do Restaurante Único, e o apoio da Farinhas Renata e do Instituto EPTV. O evento Sapori D´Italia foi idealizado para que, durante o período de pandemia de COVID-19, a entidade tenha suas ações fortalecidas, visando continuar atendendo o público em situação de vulnerabilidade social.
Legado de apoio a milhares de pessoas – O Padre Haroldo Rahm chegou em Campinas e no dia 8 de dezembro de 1965, já muito envolvido com ações sociais na cidade,onde tinha fundado por exemplo o Centro Kennedy, para a formação profissionalizante, o religioso apresentou um plano para desenvolvimento de atividades em área da Fazenda Vila Brandina (doada pelo casal Odila e Lafayette Álvaro para a Federação das Entidades Assistenciais de Campinas – FEAC).
Depois de muitas conversas, o plano foi aprovado e no dia 4 de maio de 1969 aconteceu a inauguração oficial, na casa-sede da fazenda, em um evento que contou com a participação de André Franco Montoro (então na Democracia Cristã) e sua esposa, a assistente social Luci Montoro. Estava selada a aliança do padre Haroldo e a Fundação FEAC, a instituição criada em abril de 1964, fruto de um movimento liderado por Eduardo de Barros Pimentel e Darcy Paz de Pádua, pela integração das obras sociais da cidade, em um modelo pioneiro e ousado até hoje.
As ações foram se multiplicando. Em poucos anos o Treinamento de Lideranças Cristãs (TLC), criado em 1965, envolveu 4 mil pessoas e o sucesso foi tão grande que logo foram criadas representações em Minas Gerais, Paraná e Bahia. Depois viriam, entre outras, o Amor Exigente (que se dilatou sob a direção de Mara Menezes) e a Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract), com ativa participação de Saulo de Monte Serrat.
O tratamento de dependentes químicos foi, de fato, uma das marcas da atuação do Padre Haroldo. Milhares, de várias partes do Brasil, passaram pelos cursos e clínicas que ele estruturou. Em 1998, foi co-fundador da Pastoral da Sobriedade. Mas também viriam serviços para meninos e meninas de rua e, ainda como resultado de encontros na Fazenda Vila Brandina, nasceu um centro social no Jardim Itatinga, que se transformou no Centro de Estudos e Promoção da Mulher Marginalizada (Cepromm).
Renovação Carismática – Ações impulsionadas pelo Padre Haroldo foram decisivas, igualmente, para o nascimento e enorme crescimento no Brasil da Renovação Carismática Católica. Funcionaram como embrião as reuniões da Experiência de Oração no Espírito Santo, lançada com a participação de outro jesuíta, o padre Eduardo Dougherty. O livro “Batizados no Espírito”, publicado pelo Padre Haroldo na virada dos anos 1960/70, foi fundamental para alavancar o movimento.
Os Cursilhos de Cristandade, Grupos de Oração, Encontros de Casais e Grupos de TLC alimentaram a expansão da Renovação Carismática, que seguiu uma linha diversa de outra corrente fortalecida na Igreja Católica naquele período, a Teologia da Libertação, sob a influência de nomes como os brasileiros Leonardo e Clodovis Boff e o peruano Gustavo Gutiérrez.
Instituto Padre Haroldo – Em 1978 o Padre Haroldo fundou a entidade filantrópica “Associação Promocional Oração e Trabalho” (APOT). A APOT consolidou a atuação social do religioso, com ênfase no tratamento de dependentes químicos, em ações preventivas e em diversos cursos e oficinas. Em 2003, por exemplo, a APOT firmou parceria com Fundação Municipal de Educação Comunitária (Fumec), no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Em 2006, a instituição foi reconhecida como uma das três melhores comunidades terapêuticas para recuperação de dependentes químicos do mundo. Padre Haroldo recebeu em Nova York o prêmio Harry Sholl Award durante a 23ª Conferência da Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas.
Três anos depois o sacerdote deixaria a direção da APOT, que se tornou o Instituto Padre Haroldo, por decisão da nova direção, presidida por Luis Roberto Sdoia, que já colaborava há anos com o padre. desde 2019 a presidência do Instituto foi assumida por Lucia Decot Sdoia, esposa de Luis Roberto.
E sob a gestão de Lucia Decot Sdoia o IPH tem ampliado suas frentes de atuação. O Instituto Padre Haroldo atua hoje em vários eixos. Um deles, o da Educação e Prevenção, contempla o SCFV – Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – Crianças e Adolescentes e o CCII – Centro de Convivência e Inclusivo Intergeracional, para Adolescentes, Jovens e adultos.
Antes da pandemia, o SCFV desenvolvia, na sede do Instituto, o Aprender Mais. Uma equipe de educadores desenvolvia oficinas, vivências e atividades para crianças entre 6 e 14 anos. Uma equipe do Aprender Mais também implementou ações no Jardim Campo Belo, região de alta vulnerabilidade social. Já o CCII desenvolveu projetos educativos e de convivência intergeracional com pessoas a partir de 15 anos.
Com a pandemia, as ações presenciais foram naturalmente suspensas, como ocorreu com as entidades sociais em geral. Contudo, continuou a atenção para as famílias em situação de vulnerabilidade social. Novas ações estão previstas, na linha do que fazia o religioso nascido no Texas e que servia ao exército dos Estados Unidos quando, um dia, viu um caminhão passando com uma cruz na carroceria.
O Padre Haroldo Rahm interpretou a imagem como um sinal e resolveu que seria sacerdote para atuar entre os mais pobres. Tornou-se jesuíta pelo sentido missionário que a ordem fundada por Inácio de Loyola carrega. Depois de um trabalho de 12 anos com jovens marginalizados, atendidos na organização Our Lady`s Youth Center, que criou na cidade de El Paso, ele viajou ao Brasil, chegando a Campinas em 1964, o ano do golpe militar.
Momentos da biografia do Padre Haroldo, nascido no Texas, e de sua atuação social em Campinas foram descritos nos livros “FEAC – Biografia de um pacto social” (Editora Átomo), de 2005, e “FEAC 50 anos; uma história de inovação e solidariedade” (Arte&Escrita Editora), de 2014, ambos assinados pelo jornalista e escritor José Pedro Soares Martins. O nome e a atuação do religioso aparecem com destaque nas duas obras porque a parceria e o apoio da Fundação FEAC foram decisivos para o êxito atingido pelas iniciativas do Padre Haroldo.